Boa leitura...
CRÔNICAS
COISAS DO TEMPO
Desacelerei o passo quando percebi que
cheguei na parte inesquecível da minha vida: a minha infância. Pisando
levemente sobre as britas, chego analisando cada pedacinho daquele lugar
surrado pelo tempo... o banquinho embaixo da pitangueira que sumira, os
“chocolates” que eram feitos com barro seco, a corrida de bicicleta, o futebol
na calçada, a vizinha brigando pela comemoração do gol. A choramingada por
moedinhas para comprar o famoso “chocolate da Lurdes”, e o mais importante: o
abraço de uma pessoa que o tempo levou consigo.
Paro diante da casa 72, e bato palmas; sou recebida com
sorrisos, abraços, tímidos apertos na mão e pela melhor frase a ser escutada:
“que saudade, você fez falta”. Entro na casa vazia, onde alguns anos atrás, eu
corria, pulava e brincava. Onde tinha uma antiga máquina de costurar, agora tem
uma televisão. Onde tinha uma rede, agora tem uma rede beliche. Onde ficava
minha “oficina de bolo de barro”, encontra-se uma cerca. Onde tinha apenas um
colchão ao chão, agora tem uma parede. Onde o barro ficava, agora tem concreto.
Admiro essas mudanças tão notáveis, mas que não enxerguei graças à venda das
lembranças.
O
tempo levou muitas coisas simples e uma pessoa importante. São coisas que o
tempo leva, sem aviso, sem que estejamos preparados. Mas uma coisa que o tempo
nunca vai levar é a felicidade de ter crescido ali, naquela simples vila, que
me fez sentir, por anos a fio, sentimentos tão complexos quanto tentar entender
as ações do tempo.
Bárbara Collares - aluna do 1º ano do Ensino Médio - CMSM
Que sentimento é esse? Que me faz olhar através da janela, na esperança de ver você vindo ao meu encontro? Que faz meu coração ficar apertado, que me deixa nessa agonia interminável? Que me faz sentir incompleta, com aquela terrível sensação de que algo está faltando? Que me faz lágrimas verterem copiosamente de meus olhos atravessando minha face até não terem outra opção a não ceder a força da gravidade e caírem no chão? Que me faz carregar essa tristeza comigo? Que me faz pensar tempo integral em você? Que me faz imaginar infinitas possibilidades do que farei ao te ver? Que me faz criar diálogos e mais diálogos perfeitos? Que me faz imaginar cada segundo no nosso reencontro? Que me faz ter essa vontade imensa de te ter aqui, ao meu lado, agora? Que faz eu sentir essa falta do teu abraço, do teu toque, do teu beijo, do teu olhar, do teu sorriso até mesmo do teu deboche brincalhão? Do arrepio que teu toque me causa, do calor que beijo me faz sentir, do amor que teu olhar transmite, da paz do teu abraço e da verdade do teu sorriso? Se isso não é saudade, não sei outro modo de nomear isso que está me corroendo, me sufocando. Me matando aos poucos. Só posso ter fé que essa tortura terá um fim e esperar a sua próxima ligação. Então ouvirei a tua voz e vou guardar cada segundo no mais profundo compartimento da minha mente, para que nunca se perca. E esse será meu momento de paz. Esse será o momento em que eu vou confirmar a certeza que já existia dentro de mim: eu preciso de você, como preciso do ar para viver.
Isabelle Nass - aluna do 1º ano do Ensino Médio- CMSM
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